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Mil Rosas roubadas.

  • Jéssica Caroline
  • 29 de out. de 2015
  • 3 min de leitura

Oi, peguei o primeiro avião e vim correndo. A corda e a pedra já estão dentro da minha mochila e eu vou sentar ali na ponte de São Francisco, e quando o primeiro carro azul passar eu vou me jogar. Sim, eu vou.

Mamãe sempre dizia que eu era sem graça, parecia o mero homenzinho de lata de o “Magico de OZ”, às vezes ela me comparava com Charles Chaplin, preferia dançar na chuva e sem voz do que viver um espetáculo de “A noviça Rebelde.” Que espetáculo.

Debruçava-me diante do rádio só pra ouvir Vinícius de Morais dizer “Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores?” Saía sempre cantarolando pela casa, e quando conheci Cazuza pensava em cada cena que ele citava enquanto cantava: “Amor da minha vida daqui até a eternidade nossos destinos foram traçados na maternidade. Paixão cruel desenfreada te trago mil rosas roubadas pra desculpar minhas mentiras minhas mancadas. Exagerado, jogado aos teus pés eu sou mesmo exagerado adoro um amor inventado.”

Tio Tião foi me buscar, berrava aos ventos que diabos eu estava pensando quando sai de casa, é claro como sempre comecei a rir, tio Tião era bem vivido, e um caipira sorridente que gostava de cachorros e criava galinhas, acreditava fielmente que elas conversavam, tudo bem.

Contei minha pretensão, mas tio Tião não entendeu e me fazia tantas perguntas, dizia eu que minha vida era tão sem graça quanto os filmes em preto e branco, milha alma era mais escura que meus longos cabelos, meus olhos, ahhh meus grandes olhos esses sim falavam por mim, neles haviam tanta tristeza, eram mais amargos do que os de Capitu. Eu queria alguém. Minha família me ignorava, mamãe e papai nem se importaram por eu ter saído de casa, e meus irmãos muito menos. Tio Tião disse que meu cachorro e meu gato estavam doentes e me senti mal por isso.

Depois de horas de conversa, tio Tião me convenceu a voltar para casa. Explicou-me que a tristeza só habita em mim porque eu a deixo entrar, e a vida só me trará felicidade a partir do momento que eu me permitir, e brincando ele cantou Lulu Santos: “Vamos nos permitir”.

As mil rosas que roubei joguei lá de cima da ponte e me propus a ser no mínimo mais sorridente, cantarolei Cazuza: “Prendia o choro e aguava o bom humor”. Afinal, a culpa não era do mundo por eu ser infeliz em todos os aspectos. Um dia há de alguém me olhar com outros olhos e fazer algo por mim, o que minha família jamais se propôs a fazer. Problemática e exagerada.

Ora, eu precisava tomar um café, então paramos em uma cafeteria. Tio Tião, como tinha um baita vicio, pediu um café puro com adoçante e dois pães na chapa, eu quis somente um simples cappuccino. Um tom de risada exagerada me fez olhar para trás, uma risada parecida com a minha quando eu assistia o programa do Chaves. Única hora do dia que eu me acabava de rir. Quando olhei para trás vi olhos penetrantes e um sorriso de estremecer os ossos como um toque de mágica, o mesmo olhar de admiração foi retribuído e foi ai que Renato Russo fez sentido em minha vida quando dizia: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração e quem irá dizer que não existe razão?”.


 
 
 

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